Acumuladores - um transtorno muito grave
Entenda
o transtorno psíquico que faz com que as pessoas não consigam se livrar
de objetos e como fazer para lidar com o problema
February 3, 2016
Problema psíquico pode afetar cerca de 4% da população mundial e é caracterizado pela fobia de colocar qualquer coisa fora..
Pessoas com casos severos de acumulação extrema podem
chegar a guardar lixo, roupas velhas e até partes humanasFoto: Discovery
Home&Health / Divulgação
"Quem
guarda o que não presta, tem o que não precisa". O popular ditado não
funciona com quem tem dificuldade de fazer algo que é corriqueiro para a
maioria das pessoas: se livrar de objetos, roupas, papéis, revistas,
jornais, discos, livros e outros pertences, mesmo que eles não tenham
utilidade alguma, estejam fora de moda, estragados ou obsoletos. Os
chamados acumuladores compulsivos já foram tema de um famoso
documentário no canal Discovery Home&Health e impressionaram quem
conheceu um dos casos mais severos de acumulação extrema (também chamada
de hoarding, em inglês): em março de 1947, a polícia de Nova York foi
chamada para investigar a descoberta de um cadáver em um edifício de
três andares no Harlem. O lugar pertencia a dois irmãos idosos, Langley e
Homer Collyer. Montanhas de lixo chegavam até o teto, incluindo 14
pianos, um automóvel Ford modelo T e até restos de um feto. Dentro de um
sistema de túneis que usavam para andar entre os dejetos, jaziam os
corpos sem vida dos idosos: um foi esmagado pelo lixo, e o outro morreu
de inanição.
A
história dos Collyer pode ser exagerada, mas ajuda a entender um
problema psíquico que afeta cerca de 4% da população mundial e é
caracterizado pela fobia de colocar qualquer coisa fora. A pessoa passa a
ficar dependente do que adquire, a tal ponto de não se desfazer de
nada.
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Este é um tema pouco explorado pelas pesquisas científicas, e ainda não
há critérios claros para diagnosticar esta patologia — afirma o
psicólogo Raymundo de Lima.
Porém, como identificar alguém que tem o distúrbio?
O
"transtorno de colecionamento", como é denominado pelos psiquiatras,
pode ser caracterizado por uma série de fatores. Especialistas afirmam
que, antes de tudo, é importante distingui-lo do colecionismo normal,
não patológico. O transtorno não deve ser diagnosticado se os itens são
colecionados exclusivamente enquanto realizando um hobby (como coleção
de selos ou outro tipo específico de colecionamento), se o comportamento
não resultar em um ambiente doméstico bagunçado ou se não causar
sofrimento ou comprometimento significativos.
—
Em comum, há a negação do problema: dificilmente, os pacientes admitem
que guardam coisas em excesso. O tratamento é de difícil solução, com
uma resposta não muito acima dos 30% de cura — afirma o psiquiatra Ygor
Ferrão.
Ferrão
afirma, ainda, que há uma vergonha e constrangimento muito grande em
quem acumula, o que limita muito a vida social. O transtorno pode, ou
não, vir associado a outros sintomas do Transtorno Obsessivo Compulsivo
(TOC) e à doenças como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar.
Por
trás desta doença, habitam sentimentos como a ansiedade, o medo, o
arrependimento e a frustração, entre vários motivos. A doença funciona
como uma mórbida auto compensação de algo que aflige o doente.
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É uma doença que vai evoluindo com o tempo. A maioria não sabe
especificar quando começou a ter o vício de acumular — diz Ferrão.
Apesar da maioria dos casos surgir nos idosos, esta desordem também pode afetar pessoas mais novas, em ambos os sexos.
Por dentro da doença
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A acumulação compulsiva — também chamada de disposofobia — consiste na
aquisição ou recolha ilimitada de bens ou objetos que já foram colocados
no lixo. As pessoas que sofrem desta perturbação, maioritariamente
idosos, acumulam tudo o que podem para mais tarde conseguirem dar uma
resposta eficaz a uma "eventual emergência". Além disso, são incapazes
de descartar objetos ou bens mesmo quando eles são inúteis, perigosos ou
insalubres.
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A acumulação compulsiva também é conhecida como Síndrome de Miséria
Senil ou Síndrome de Diógenes, devido ao filósofo grego, Diógenes de
Sinope — que vivia como um mendigo, dormia num barril e recolhia da rua
inúmeros objetos sem valor.
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O acumulador compulsivo no seu extremo é por vezes apelidado de
"colecionador de lixo", uma vez que reúne objetos que produzem maus
cheiros, atraindo insetos e roedores. Essa pessoa também poderá juntar
livros, revistas, ferramentas, recipientes, metais, móveis,
eletrodomésticos, entre outros materiais, correspondendo à imagem dos
sem-abrigo que juntam todo o tipo de velharias.
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A acumulação pode ser um dos sintomas de uma doença mental, um
transtorno de ansiedade que muitos especialistas afirmam ser um
transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Trata-se de uma perturbação que é
definida por três características principais: a coleção obsessiva de
bens ou objetos que parecem inúteis para a maioria das pessoas, a
incapacidade de se livrar de qualquer um dos objetos ou bens recolhidos e
um estado de aflição ou de perigo permanente. Alguns estudos
demonstraram que a acumulação compulsiva é vista em apenas 24% dos
pacientes com TOC, embora durante muito tempo fosse considerado típico
deste transtorno.
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Tal como a maior parte dos comportamentos obsessivos, a acumulação
compulsiva começa de uma maneira lenta e desenvolve-se de uma forma
progressiva. A doença pode ser um indicador de um enorme sentido de
responsabilidade ou medo de errar, pois é uma forma das pessoas se auto
pressionarem para fazerem tudo bem feito.
Fonte:zh.clicrbs.com.br
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